terça-feira, 7 de junho de 2011

Papo de colega: Os xingamentos


Eu não sei se vocês concordam comigo, mas a imensa gama de xingamentos que são usados na hora de um confronto são justamente os que menos dizem alguma coisa sobre você. Quanto mais pesada é a injúria, mais etérea ela acaba sendo. Se perde no ar o que você quer dizer, quando você chama alguém de “filho(a) da puta”, porque com certeza a mãe da pessoa xingada não é uma matrona da rua Nazaré. E mesmo que o xingado seja filho(a) da pobre prostituta, ele não tem o que dizer, afinal é a mais pura verdade. O que ele vai fazer? Retribuir na mesma moeda?

- E você, seu filho da arquiteta! Filho da professora! Filho da dona de casa!

A maioria desses xingamentos não tem condição alguma de afetar uma pessoa.

Filho(a) da puta! Minha mãezinha é uma nobre dona de casa, que sempre me recebe com comidas quentinhas, lava a roupa e limpa a casa. Você não está xingando ninguém… Está mentindo, isso sim.

Vai tomar no cu! Mas eu vou tomar no cu só porque você pediu? Isso não me apetece, o que eu posso fazer?

Viado ou Bolacheira! Bem, eu, uma profunda respeitadora de quaisquer orientações sexuais, não considero “viado ou bolacheira” ou similares uma ofensa. Mas entendo que quando a pessoa cospe um “viado ou bolacheira” com raiva, ela não está compartilhando da minha crença. Mas de qualquer forma, chamar um hétero de viado é a mesma coisa de chamar um gordo de magro; Um alto de nanico;

Seu merda! Por que escolheram “merda” como o dejeto oficial para esculachos? Por que não seu vômito? Seu urina? Seu catarro? De qualquer forma, chamar alguém de cocô ainda não é a forma ideal de acabar com uma pessoa… Por mais que ela cheire mal. Seria melhor “Seu fedido!”.

Xingue alguém de merda e de fedorento(a). Eu tenho certeza absoluta de que o segundo esculacho doerá mais na pessoa. Merda é qualquer coisa, se relaciona com as mais variadas situações. Fedorento(a) não. E feder machuca o psicológico, vai me dizer que não? Quer coisa pior do que ter a convicção de que você está poluindo um ambiente com um cheiro que não combinou contigo, mas apareceu no seu corpo?

Embora possa parecer pueril, xingamentos infantis são muito mais acachapantes. E não era para menos: a infância é notadamente a época da nossa vida em que somos mais sinceros. Ela chama, sem o menor constrangimento, alguém de feio, burro, medonho ou fedido. Se ela te chamar de feio(a), putz, há grande possibilidade de você ser o chupa cabra.

Xingamento bom é aquele que te ataca justamente por não saber se você se encaixa nele. “Corno ou chifruda”, por exemplo. Alguém te chamar disso é como abrir, com uma chave sórdida, os enormes portões da paranoia. Você nunca saberá se foi traído(a), a menos que te contem ou você descubra de alguma forma (Algo me diz que detetive só serve para isso mesmo). A mesma coisa com “feio(a)”. Imediatamente você discute com o seu próprio ser: “serei um(a) jaburu? Serei eu mais feio(a) do que a fome na Etiópia?”. “Vai tomar no cu” não vai tirar sua auto-estima nunca, entendeu?




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