
Quando tudo começou a incomodar de maneira que não conseguia mais pensar em outra coisa, sentei na cama com a minha pior cara, cruzei as pernas e pensei “e agora?” sem a menor esperança de um “agora”.
Liguei a televisão e vi desenho o resto da manhã. Não que eu esperasse que fosse solucionar o que não tinha solução. Não ajudou em nada, mas pelo menos também não piorou. E na hora, isso me era lucro.
Precisava falar com Nana.
Bateu uma enorme e incontrolável vontade de fazer com que ela soubesse tudo o que estava acontecendo.
Não era uma situação de ajuda, conselho, ou respostas que mudariam o meu mundo, era uma situação de Nana, e só queria que mesmo sem poder ajudar, ela ouvisse. Mesmo perto, ela fizesse algo com o longe e mesmo sendo só a Naninha, ela fosse tudo o que Naninha é.
Mas não conseguia achar Nana, e com o celular ainda chamando por Nana, roí todas as unhas da mão esquerda. E segundos depois, todas as da direita.
Funcionava mais ou menos assim: Escolhia um dedo qualquer, de preferência o que estivesse com o esmalte mais intacto, arrancava com os dentes o máximo que conseguisse, e cuspia o resto no chão do quarto. Ardia, eu não queria e sabia que ia me arrepender, mas a sensação de arrancar devagar aquilo que eu sabia que depois ia crescer de novo, me fez achar que talvez valesse a pena doer por alguns dias a mais.
Não foi da minha vontade, mas acabei deixando um recado qualquer: “Oi Naninha, sou eu, me liga. Tô precisando de qualquer coisa.”
Mas que tipo de mensagem era essa? Como se ela tivesse que saber só pela voz quem era aquela pessoa que resolveu ligar só porque as coisas não foram como o esperando.
Naninha tinha outras amigas. Naninha sempre teve muitas amigas, e poderia pensar que eu não era eu, porque eu sempre era quem não deixava recado na máquina pedindo ajuda.
E se Nana fosse escutar os problemas de outra, enquanto os meus ainda eram fresquinhos e tristes o suficiente para fazer Nana chorar comigo?
Nana não me ligou nos infernais 5 minutos que se seguiram e eu senti subtamente uma enorme vontade de ir até a casa dela, apagar a mensagem, comer chocolate e ir embora.
Não levantei da cama por dois anos, ou pelo menos foi o que pareceu, fiquei parada, olhando pra janela com vista para o nada, enquanto a máquina falava sem parar:
“Sou eu, Allana! O que houve? Ta em casa? To indo praí. Vê se não vai roer todas as unhas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário