
Estávamos todos no bar. Gosto desses dias com os amigos. Faz parecer que na semana seguinte não haverá segunda-feira.
E mesmo nos momentos em que o tédio roubava a cadeira ao lado, eu fazia dele a melhor companhia, para depois brincar de ser meu namorado.
A galera tinha levado gente nova, e eu torcia o nariz para tanto desconforto.
Faziam média, se olhavam se ajeitavam nas cadeiras de plástico, e os que mais me irritavam, se auto-intitulavam caretas.
Caretas de quê? A diferença entre o si e entre o não é só de um momento.
Um casal sentava-se ao meu lado. Ele, estudante fudido, sem um pingo de criatividade. Ela, vestido florido que nas horas vagas escrevia contos eróticos na internet para meia dúzia de punheteiros online.
Estava sim julgando, porque todo mundo julga o tempo inteiro, e é por isso que se tem amigos, ou inimigos.
Ela pareceu interessada quando soube que eu tentava escrever. Puxou a cadeira mais perto e começou a falar – seus contos, suas idéias, suas vontades – dela.
Tinha me pego num péssimo dia. Não estava com disposição de fingir interesse pelo desinteressante.
Deixei-a falando. Porque é isso o que satisfaz. Não é preciso ouvir, apenas fazer presença para alguém falar, falar, falar por horas. De si, e tudo ligado a si mesmo.
Em algum momento ela me perguntou algo, e esperava uma resposta:
- Nunca escreveu conto erótico?
- Eu?
- É. Você.
- Eu não.
- Porque não?
Puxei seu cabelo com a força necessária para ouvir o estalar do pescoço. A mesa se calou e todos permaneceram imóveis, tentando entender o que acontecia:
- Gosta disso, Piranha?
O rapaz pouco criativo levantou num pulo e afastou-me, dando o que eu chamei de “minha deixa” para a conclusão da noite e da estória:
- Porque sacanagem não se escreve não se conta. Sacanagem se faz. Debaixo do vestido e sem flores.
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